Projeto #52livros, livro 5: O último dia de um condenado

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Polêmico. Vanguardista. Incômodo. Victor Hugo não media o peso das palavras que saiam de sua pluma. Graças à ele, as Arenas de Lutécia, em Paris, não foram destruídas para dar lugar a um estacionamento de ônibus da municipalidade. Defensor apaixonado do patrimônio, ele registra a importância da preservação do mesmo no belíssimo “Notre-Dame de Paris”. Engana-se quem pensa que a vedete da obra é Esmeralda ou Quasímodo: a vedete é a catedral parisiense, sua fachada, sua história, seu significado. A trama romântica é pequeno detalhe perto da paixão que escorre das páginas do romance a cada nova menção à construção.

Mas a obra do autor escolhida pro projeto é “O último dia de um condenado”. Uma narrativa em primeira pessoa, feita pelo próprio condenado, sobre suas últimas horas de vida. Contrariamente ao que podemos esperar de uma narrativa deste estilo, o texto não é uma constante de lamentações da parte do prisioneiro, condenado por um crime que resta desconhecido, assim como sua própria identidade. A questão central do livro, como bem podemos desconfiar quando se trata da obra de Victor Hugo, tem cunho político: o autor foi um militante contestador da pena de morte. Várias passagens do relato rementem à lembranças pessoais suas: a condenação à morte de seu padrinho, um sonho que o atormentou. Detalhes que tornam a narrativa ainda mais envolvente.
Ao longo de todo o recito, o narrador nos detalha não apenas suas últimas horas, mas apega-se também ao mais precioso bem que temos, aquele que dificilmente nos será subtraído: as lembranças. Achei interessante ter escolhido intercalar um romance contemporâneo com um clássico e, ainda assim, ver os dois dialogarem sem conflitos de gerações. A militância de Hugo, assim como sua sensibilidade em tratar dilemas que permeiam o contexto social, conferem à sua obra um aspecto contemporâneo que não deve ser negligenciado. O autor nunca tratou os problemas sociais e conflitos políticos “com as costas da colher”, como diz uma expressão francesa, o que lhe valeu o justo reconhecimento, tardio talvez, como um dos grandes homens franceses. 

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