Projeto #52livros, livro 10: A peste

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Este livro poderia ser considerado uma prolongação do tédio, não porque a trama o seja, mas porque o cenário escolhido por Camus é o mesmo. A cidade de Oran, na Argélia, cidade que o autor registrou em seus cadernos como sendo um entediante, torna-se ganha vida sob sua pluma, tornando-se palco de uma história pesada, num cenário por vezes estático, com um desenrolar tenso e cansativo. Camus se dedicou à redação de “A peste” durante sete anos, e chegou mesmo a hesitar se levaria a cabo a empreitada. 
O romance, que deve ser lido numa espécie de continuidade com “O estrangeiro“, por se tratar da mesma cidade, se inscrever numa ordem cronológica que sucede o primeiro, mas cuja leitura não se faz obrigatória para que se tenha noção do drama tratado no segundo, desenrola-se nos anos 1940, sob a sombra da guerra que divide novamente o continente europeu. A questão do exílio e da separação são abordadas ao longo do recito, e por vezes tive o sentimento de que a peste era vivida pelos personagens como uma espécie de parêntese no desenrolar cotidiano, um parêntese que portanto parecia não encontrar fim.
Se Camus precisou de 7 anos pra concluir o romance, eu precisei de duas semanas pra ler, digerir, refletir. Impossível não encontrar semelhanças com “Ensaio sobre a cegueira”, de Saramago. A questão o exílio e separação são um ponto comum entre as duas. E no meio do caminho da leitura, me deparo com uma série, “Under the dome”, inspirada do romance homônimo de Stephen King, que também evoca a questão da separação do resto do mundo, mas por outros motivos. 
Biblioteca Méjanes, Aix-en-Provence 
Enfim, quem vier à Aix pode aproveitar a exposição em homenagem ao centenário de nascimento de Camus, que ficará até dia 5 de janeiro da Cité du Livre da Biblioteca Méjanes. Aliás, Camus é homenageado em permanência na fachada do edifício: na entrada, a reprodução de três imensos livros indica o caminho à leitura, sendo que “O estrangeiro” dá boas-vindas aos visitantes ao lado do “Pequeno Príncipe” e “O doente imaginário”, de Molière. Do lado oposto, Balzac e Mistral são homenageados com suas obras em tamanho gigante, “A comédia humana” e “Mireio”, respectivamente.

3 Responses

  1. Natalia Itabayana

    Super recomendo, Helô! Mas é a tal coisa, como O estrangeiro, ele é de digestão lenta, tem muita reflexão. Bem Camus, bem apaixonante.

  2. T. L. B. Barros Editora

    Gostei do seu blog, Natalia! O conheci através da publicação, no facebook, por parte de "Brasileiros mundo afora", hoje, do post sobre vossa ida aos Alpes.

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