Projeto #52livros, livro 4 : As lembranças

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Desculpem o atraso nas postagens do projeto. As leituras estão em dia, mas precisei de um tempo pra fazer devidamente o luto desse livro antes de poder escrever sobre ele. David Foenkinos é um escritor jovem, cuja narrativa sensível e envolvente me conquistou quando eu ainda estava aprendendo francês. O primeiro romance que li do autor foi “A delicadeza”, que ele mesmo adaptou pro cinema, com a atriz Audrey Tautou no papel da personagem principal, contracenando com o excelente ator belga François Damiens. Daquelas adaptações feitas com zelo, sem dilapidar o enredo. Pois bem, depois do primeiro livro, tratei de buscar outros do autor, e pro projeto o livro eleito foi “As lembranças”.

Lembranças, um assunto tão delicado e cheio de emoções quanto o próprio livro. Narrado em primeira pessoa, como se estivéssemos lendo um diário. Afinal, evocar lembranças é abrir o segredo da alma, e uma narrativa em primeira pessoa é mais do que adequada neste caso. O narrador se descortina, se redescobre, reconcilia-se com seus sentimentos à medida que traz à tona elementos de sua vida que são de uma simplicidade surpreendente, comportando ao mesmo tempo um teor emocional intenso.  
Numa mesma página, eu ri e chorei. Ao encerrar cada capítulo, precisei de tempo pra recompor-me face aos temas evocados – todos eles, de uma forma ou de outra, encontram pontos comuns com a história de cada um de nós. Trata-se menos de dar sentido aos eventos do que de registra-los para uso posterior – seja este uso para simples recordação dos momentos compartilhados com as pessoas envolvidas na situação. Se recordar é viver, viver é um exercício de colecionar momentos a fim de haver de que recordar-se depois. Somos todos colecionadores de lembranças. Cada um decide, ao longo da vida, como vai decorar a caixinha, e como vai se servir dela mais tarde.

Uma das passagens que mais me emocionou no livro, a ponto de eu precisar de um certo tempo pra retomar a leitura, diz da inocência da infância que teimamos estar sendo perdida. Discordo com veemência desta afirmação: a mesma criança que tem a capacidade de encantar-se com um jogo eletrônico é também capaz de formular à uma senhora de idade uma pergunta que não tem nada de chocante ou absurda, “Quando a senhora era criança, tudo era em preto e branco?”. A criança é aquela que tem a capacidade de questionar o óbvio com tamanha pertinência que chega a nos surpreender. Ora, nessas horas, vemos uma boa ocasião para abrirmos nossa caixinha de lembranças e procurarmos na memória os tesouros colecionados ao longo dos anos.
Foenkinos é um autor que sempre me deixa boquiaberta, emocionada em níveis elevados, e temo não fazer justiça à sua pluma. Recomendo a leitura dos livros com a atenção que dispensamos ao que nos é mais caro. Impossível fechar as páginas de um livro seu sem sentir-se profundamente questionado.

Leia também a resenha feita pela Camila Navarro, do blog Viaggiando, que tem o projeto de volta ao mundo pelos livros.

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