Um jeito diferente de conhecer Marselha

Há tempos ensaio uma ida à Marseille especialmente pra correr na beira-mar da cidade mais antiga da França, e poder contemplar durante o percurso o azul turqueza das águas límpidas do mediterrâneo, emolduradas pelas calanques de um lado e pelas ilhas do Frioul com o Château d’If de outro. Eu adoro correr, e por mais estranho que possa parecer, adoro visitar cidades correndo, como fiz em Lyon em dezembro passado.

Encontrei a oportunidade ideal pra correr pela cidade quando soube da prova Run in Marseille, que aconteceu dia 14 de setembro na cidade, com 3 distâncias (10km, 21,1km e 42,2km) em dois percursos muito bacanas por lugares da cidade onde já passei, mas sempre de carro ou ônibus. Me inscrevi na meia maratona (21,1km) num momento de insanidade porque achei que o percurso passa por lugares bem bonitos na cidade, e poder vê-los na perspectiva de pedestre seria bem interessante. Vou mostrar um pouco das atrações de Marseille por onde a corrida me levou, e o que pode ser visitado nos arredores de cada um desses lugares.

MuCEM

A largada aconteceu na frente do MuCEM, o Museu das Civilizações Europeias e Mediterrâneas, sobre o qual já falei neste post. Construído na entrada do antigo porto e inaugurado em junho de 2013, a arquitetura moderna do edifício se integra bem à paisagem natural do porto e aos monumentos históricos que o cercam, como o Forte Saint Jean e o Forte Saint Nicolas, e sua esplanada é um excelente ponto de encontro e contemplação, onde podemos apreciar o vai e vem dos barcos e a calmaria do mediterrâneo no porto.

Catedral de la Major 

Construída em estilo bizantino romano, entre o porto velho e novo porto de Marselha, e ao lado do bairro Panier, o mais antigo da cidade, a Basílica-Catedral Santa Maria Maior é única catedral edificada durante o século XIX na França, e sua construção demorou de 44 anos. As cúpulas fazem alusão ao oriente, e os sinos da catedral remetem ao ocidente, lembrando que Marselha, principal cidade portuária do mediterrâneo, é também conhecida como a Porta do Oriente graças às trocas comerciais realizadas ao longo dos séculos por via marítima, e a intenção do arquiteto Léon Vaudoyer era incorporar no projeto do edifício tal característica.

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Torre CMA CGM

O maior edifício de Marselha fica na região do novo porto e é a sede da CMA CGM, o terceiro grupo de transporte marítimo do mundo. São 147 metros de altura e uma fachada inteiramente revestida de vidro, vista de longe quando estamos no barco em direção às ilhas temos a impressão de vermos apenas mais um prédio, mas quando chegamos pertinho vemos que não se trata de uma simples torre: a base tem a forma de um barco, e a torre, vista de perto, ganha apres de vela. Eu tive a impressão de estar diante de um imenso veleiro de vidro, uma obra interessante pra quem gosta de arquitura. A região do novo porto é uma área da que nos últimos anos passou por uma grande reestruturação e renovação imobiliária, ganhando hoteis, apartamentos e escritórios, além de um imenso centro comercial à beira-mar, o Terrasses du Port.

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Porte d’Aix

Construído na entrada norte da cidade, no ponto onde a estrada d’Aix chega em Marselha, o arco do triunfo marselhês data do século XIX e mede 17,68m de largura e de altura. Recentemente, os trabalhos de restruturação do entorno e a construção da nova entrada para a estação Saint Charles modificaram a circulação ao redor do arco, novos prédios estão sendo construídos, tudo dentro da política urbana de requalificação e valorização da cidade. Apesar de ser relativamente pequeno se comparado ao seu irmão parisiense, o arco do triunfo marselhês sempre me emociona cada vez que chego na cidade, e não foi diferente durante a corrida: cheguei a diminuir o ritmo pra fotografá-lo ao me aproximar (a segunda foto não foi feita no dia da corrida, somente a primeira).
Correndo em direção à Porte d’Aix, o arco do triunfo de Marselha

Canebière

O nome da principal avenida do centro de Marselha vem do provençal “canebe”, que significa cannabis, em referência ao material usado na fabricação das cordas utilizadas nos barcos. Foi a partir do século XVIII que avenida começou seu tempo próspero, sendo prolongada até o porto e ganhando novos edifícios, sendo a Bolsa e Câmara de Comércio o mais bonito deles, na minha opinião. Na fachada, ao lado do relógio, podemos ler os nomes de grandes navegadores, como Colombo e Vasco da Gama, e as estátuas representam o navegadores marselheses. Bem na frente do prédio fica a praça do General de Gaulle, com alguns restaurantes e um imenso carrossel, e durante o natal é onde acontece a feira de Santons, os bonecos de argila provençais usados na composição dos presépios natalinos.

Rue Paradis

Com 2,8km de extensão, a Rua Paradis atravessa 3 distritos (arrondissements) de Marselha e é a rua mais longa da cidade, e bastante movimentada por conta do comércio durante a semana, sendo um endereço concorrido durante o período das liquidações, junto com a rua Saint-Férreol, paralela à Paradis. Não muito longe da loja Nespresso, virando a esquina da rue Grignan, as apaixonadas pelas famosas bolsas Louis Vuitton podem ir às compras na boutique da marca.

Castellane e Avenida Prado

A praça Castellane é o cruzamento entre a parte popular de Marselha e os bairros nobres, situados na região sul seguindo a avenida Prado, conhecida como a Champs-Elysées da cidade. A avenida arborizada tem ciclovia e uma boa pista para corrida ou caminhada, e é frenquentada também por skatistas e patinadores.

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Rond Point du Prado e Estádio Vélodrome

A avenida Prado tem formato em L, ou seja, ao chegar no Rond Point du Prado (rotatória), ela continua em direção ao mar, e isso porque o projeto de urbanização da cidade previa a extensão da Rue de Rome, da qual a avenida Prado é prolongação, até o mar. Assim, a avenida delimitava o fim da cidade, mas depois foi extendida no sentido sul dando origem ao Boulevard Michelet, onde fica a entrada do estádio Vélodrome, que pode ser parcialmente visto na foto abaixo. Outra atração que está na minha listinha de visitas em Marselha é o imóvel Le Corbusier, ou Cité Radieuse, por refletir a luz do sol no momento do crepúsculo. No final da Prado, logo na beira-mar, tem uma réplica do David de Michelangelo.

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Parque Borély e Château Borély

Este é o real motivo da minha escolha pelo percurso de 21km: correr no parque Borély. O percurso de 10km não incluia a voltinha no parque, e seguia direto pela Prado até a beira-mar, e como eu adoro correr em parques – foi a primeira coisa que fiz quando voltei a Lyon, correr no parque de la Tête d’Or – não poderia deixar essa oportunidade escapar. Além de ser um parque que fica logo ao lado do mar, onde podemos desfrutar da brisa marinha, a vista pras calanques também é espetacular e vale a visita. Nos finais de semana o parque é bastante concorrido, e é um excelente passeio em família, entre amigos ou pra uma corridinha!

Corniche

Comecei a correr ainda no Brasil, poucos meses antes de nos mudarmos pra França. Na época, estávamos em Vila Velha, no Espírito Santo, e eu corria na beira-mar no fim do dia, e aproveitava pra dar um mergulho antes de voltar pra casa pro jantar. Eu podia correr a distância que fosse, com o calor que fazia, porque nada era mais gratificante que a vista pro mar, e de vez em quando eu precisava me lembrar de olhar pra frente pra não trombar em ninguém no caminho. E correr à beira-mar era uma das principais razões pra eu querer correr em Marselha vez ou outra. 
Quando sai do parque Borély e segui em direção à beira-mar, minha vontade era passar direto e mergulhar, mas ainda faltavam 7km pro final do percurso, e eu teria de me contentar com a vista do mediterrâneo dessa vez. E que vista! Definitivamente, as pessoas que vivem em cidades litorâneas são altamente felizes, na minha opinião. Vale também pra quem mora em região de lago, pra mim nada recarrega tanto as energias quanto olhar pra água, seja ela doce ou salgada.

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Vallon des Auffes

O pequeno e charmoso porto situado quase aos pés da igreja Notre-Dame de la Garde tem seu nome relacionado à vocação marítima da cidade: auffe ou alfa, é uma planta utilizada na fabricação de cordas e redes de pesca para barcos e navios. A vocação de pesca do pequeno porto fez dele um endereço mais que propício pra instalação de restaurantes especializados em frutos do mar, como o reputado Chez Fonfon, que nos recomendaram para degustar a bouillabaisse, a peixada típica de Marselha, endereço que pretendemos testar em breve!
Em frente ao Vallon des Auffes fica o monumento aos soldados que combateram no Oriente durante as várias campanhas realizadas pelas tropas francesas.

Abadia Saint-Victor

Construída no século IV no lugar onde teria sido enterrado São Vitor, um mártir marselhês, a abadia é ainda hoje lugar de culto, mas não abriga mais monges. As criptas podem ser visitadas (2€ a entrada), e no site podemos ver fotos panorâmicas de seu interior. Foi ali que nasceu a tradição provençal de servir navettes – biscoitos com aroma de flor de laranjeira em formato de barquinho, simbolizando o jangada que teria trazido santa Maria Madalena para a região, leia mais sobre aqui – durante a festa da candelária, quando o menino Jesus foi apresentado no templo. No resto da França a tradição é servir crepes, o que tornou a festa mais conhecida atualmente como festa dos crepes. A poucos metros dali funciona, desde 1781, a deliciosa padaria Le four des navettes, onde comprei meus biscoitinhos que degustei na praça em frente à abadia, e ainda guardei alguns pra comer depois da corrida!

Palácio do Pharo

Construído no século XIX como um “palácio com os pés na água” por Napoleão III – que nunca chegou a se hospedar nele – o palácio do Pharo recebe atualmente eventos de todo porte, funcionando como o centro de congressos da cidade de Marselha. Mas o melhor da visita é poder desfrutar da belíssima vista da cidade que temos do parque ao redor do palácio. E foi ali que degustei outro biscoitinho comprado perto da abadia.

Vieux Port e Hôtel de Ville

Nunca o Vieux Port me pareceu tão longe do MuCEM. A distância que separava o ponto de largada do ponto de chegada do corrida era de 1km, ou cerca de 10 minutos de caminhada. E levei exatamente 2 horas e 10 minutos pra ir do MuCEM ao Hôtel de Ville, ou Prefeitura, passando antes pelo movimentado Vieux Port, onde várias pessoas embarcavam pra aproveitar o domingo ensolarado nas Ilhas do Frioul ou pra ver as Calanques. Quando cheguei no porto, ouvi um carro se aproximando e buzinando: era o carro-batedor da corrida, com o relógio mostrando o tempo de prova, e atrás dele, o primeiro colocado na maratona. Enquanto eu tentava tirar força pra percorrer os últimos 800 metros, ele passou por mim como se tivesse acabado de começar a correr. E depois passou o segundo, e o terceiro. Eu cheguei logo atrás do terceiro maratonista, exausta, mas encorajada no caminho por gente que nunca vi na vida, nem nunca mais vou ver. Correr em Marselha foi um jeito bem legal de visitar a cidade, e certamente farei de novo.

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Na frente da prefeitura de Marseille, tem-se uma das mais belas vistas pra igreja Notre Dame de la Garde, a “bonne mère” 

11 Responses

  1. Gil

    Natalia, ótimo post. Belo pela leveza do texto, fotos, paisagens, capacidade de sintetizar os principais pontos turísticos de Marseille. Parabéns pelo blog, você escreve muito bem. É um prazer ler seus artigos. Irei à Provence em novembro e gosto de pesquisar muito antes de viajar, então descobri o Destino Provence. Espero ler todos os posts até lá. Abraços, Gil

  2. Magê

    Querida Natalia,
    Deu comichão… Quem sabe pego gosto em Berlim em março e marcamos uma corridinha em Marselha mais cedo ou mais tarde…
    Lindíssimo o percurso. Parabéns por mais está prova. Bjs

  3. Natalia Itabayana

    Oi GIl!

    obrigada pela gentileza de suas palavras. Sintetizar em um post as principais atrações de Marseille é tarefa dificil, alguns lugares acabam sendo preteridos, mas aos poucos publicarei outros posts sobre a cidade, e espero que as informações do blog ajudem no planejamento da sua viagem!

    Abraços!

  4. Natalia Itabayana

    Ei Magê!

    Correr em Marseille foi muito bom, o percurso é bem tranquilo e plano, e pra mim nada como a vista do mar pra relaxar! Ano que vem a provam vai acontecer em março também, mas espero que você possa vir logo à região, daí combinamos um passeio em Marseille e uma corridinha à beira mar!
    Beijo!

  5. Gil

    Oi Natalia, as informações do blog estão me ajudando e muito. Obrigado por compartilhar conosco sua vivência na Provence. Gosto da conotação histórica e pessoal que você dá aos seus artigos. Aquela impessoalidade característica de guias turísticos tradicionais me desagrada.
    Abs
    Gil

  6. Gil

    Você é a Magê do blog Milão nas Mãos? Estou descobrindo que os blogueiros de viagens se conhecem… Conheço seu blog. Já troquei e-mails com você, pena ter descoberto depois te ter visitado Milão. Prefiro ler blogs especializados em países e regiões a blogs mais genéricos. Para quem é curioso e detalhista é melhor. Abs

  7. Mage Santos

    Ola Gil!
    Sou eu sim, a Mage de Milao…Lembro do teu email.
    Espero que vc possa usar em breve as dicas do blog na sua proxima passagem por Milao.
    Abraços

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