Gordes, Abbaye de Sénanque e Roussillon

Na minha humilde opinião, o melhor da Provença está no meio dos caminhos de uma cidadezinha a outra, e em cidadezinhas pequeninas. Muitas dessas cidadezinhas nem aparecem em guias turísticos, e acabamos passando por elas quando estamos nos dirigindo à outras, igualmente pequenas, mas turisticamente mais conhecidas. E sempre temos agradáveis surpresas no caminho entre uma e outra, como foi o caso deste passeio que fizemos pra mostrar um pouco da Provença aos amigos que vieram do outro lado do Atlântico pra conhecer um pouco mais do Velho Continente.

Rota da lavanda: Gordes

O roteiro foi pensado de forma a conciliar interesses, os deles em conhecer a região onde moramos, os nossos de descobrir novas cidades. Sim, moramos super perto de vários dos mais belos vilarejos da França, e poderíamos explora-los a cada fim de semana, mas aí perderíamos o efeito surpresa a cada novo hóspede levado pra conhecer a região. Assim, deliberadamente, abrimos mão de passar um fim de semana em cada canto pra desfrutar a conta-gotas do melhor da região, e reservar alguns destinos pra irmos em companhia de amigos e família em visita. Gordes e Roussillon foram dois dos destinos escolhidos para serem descobertos em companhia de quem vem nos visitar, e os dois vilarejos tem o selo “Plus Beaux villages de France” (“mais belos vilarejos da França”), como Les Baux de ProvenceouMoustiers-Sainte-Marie, que é uma denominação especial concedida à certos vilarejos (um dos critérios para que o local seja incluído nessa classificação é que a população não pode ultrapassar 2 mil habitantes).

 

 

Tempo pra contemplar

A impressão que tenho depois desse tempo vivendo aqui é que o tempo corre, ou melhor, anda, num ritmo diferente na Provença, por isso vale pensar o tempo dedicado aos passeios pela região em função das surpresas que podemos ter no caminho. Sempre escolhemos percorrer as estradas nacionais ou departamentais ao invés de viajar nas autoestradas quando fazemos passeios do tipo bate-volta em cidadezinhas da região, e isso por uma questão simples: a autoestrada vai rápido, e pressa é algo que não temos quando saimos pra esses passeios, porque sabemos que o caminho escolhido vai compensar o tempo a mais dispensado à viagem.

Claro que belezas podem ser contempladas quando viajamos em alta velocidade, mas é raro conseguirmos parar pra uma bela foto, muitas vezes porque não tem um lugar apropriado pra tal coisa (parar no acostamento pra tirar foto não é exatamente um motivo urgente, convenhamos) e perdemos o que os centros das cidadezinhas no caminho tem pra nos mostrar optando pela via rápida. Uma das surpresas que tivemos no caminho desta vez foi um grande moinho na cidade de Taillades, o moinho Saint Pierre, que mereceu justamente uma parada pra foto, e com isso pudemos também contemplar o canal de Carpentras e as casinhas com janelas floridas na cidade de Taillades, dessas janelinhas que vemos em postais. Na volta, a surpresa ficou por conta do Pont Julien, construção romana no século III antes de Cristo, que fica na estrada entre as cidades de Apt e Bonnieux.

Moinho Saint Pierre, na cidade de Taillades

 

Ponte Julien

Rota da lavanda: Gordes

A 15km do moinho estava nossa primeira parada oficial: o vilarejo de Gordes. Cravada em uma colina que se eleva sobre os belos campos cultivados do Luberon, a cidade parece que foi esculpida na pedra sobre a qual repousa, e é mais ou menos essa impressão que tive do que aconteceu: o calcáreo usado na construção dos edifícios parece ter sido extraído dos arredores da cidade, isso porque o lugar onde estacionamos ficava ao lado de uma antiga exploração de calcáreo, como as que vemos no vilarejo de Les Baux de Provence. Do estacionamento, fomos à pé pro centro, onde fica o castelo. Ficamos pouco tempo em Gordes, nos perdemos entre as ruelas estreitas pavimentadas de pedras, apreciamos a vista deslumbrante que a cidade oferece da região em torno, repleta de campos cultivados e cercada por colinas, e o único lugar que visitamos foi a igreja, sabendo entretanto que o tempo dedicado à cidade não tinha sido suficiente, deixando a porta aberta pra uma segunda (e terceira, e quem sabe quantas tantas) visitas a vir. Mas perder-se pelas ruelas do vilarejo e apreciar a vista já vale o passeio.

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Rota da lavanda: Roussillon

Saimos de Gordes rumo à Roussillon, que fica a 10km de distância, mas optamos por aumentar o percurso e passamos antes na Abadia de Sénanque, uma das abadias cistersienses da Provença, mas devido ao “atraso” da primavera não vimos os campos de lavanda com as cores que esperávamos. A paisagem e a calma do lugar valem a visita, e quem quiser conhecer a abadia por dentro é bom atentar às roupas: shorts curtos não são aceitos no interior da abadia. A visita é guiada, custa 7,50€ e só é feita em francês, e a visita livre pode ser feita seguindo as informações do panfleto entregue na entrada (em francês, inglês, italiano, espanhol, alemão, holandês, japonês e chinês). A abadia fica a 4,7km do centro de Gordes, pra chegar basta seguir as placas que ficam logo na saída da cidade, um estacionamento está à disposição dos visitantes.

Abadia de Sénanque em junho de 2013

 

Na Abadia de Sénanque em junho de 2013
Na Abadia de Sénanque em julho de 2014

 

Abadia de Sénanque em julho de 2014

De Gordes à Roussillon

O percurso curto entre Gordes e Roussillon é margeado por campos de oliveiras, vinhedos e trigo pontuados de papoulas, essas pequenas flores vermelhas que invadem os campos, suas sementes sendo facilmente dispersadas pelo vento, por isso é tão comum vermos as beiras de estrada tomadas pelas flores vermelhas durante a primavera, assim como o trigo compartilhando seu campo com elas. E o vermelho das papoulas é também a cor da terra onde fica o vilarejo de Roussillon, cidade do ocre e das casinhas pintadas com esse pigmento, fazendo com que as casas sejam integradas ao restante da paisagem, dando a impressão de que a colina de ocre foi moldada em forma de vilarejo. Outro lugar pra se deixar perder entre as ruelas, seguindo o som do sino da igreja, apreciando cada janelinha das casinhas provençais até chegar à charmosa praça do Hôtel de Ville, prédio facilmente identificado pelas bandeiras na fachada.

 

 

Hôtel de Ville, ou Prefeitura

 

Sentier des ocres: o caminho da cor de Roussillon

Depois de um rápido almoço, seguimos pro Sentier des Ocres, onde ficava a exploração de ocre da cidade, hoje devidamente sinalizada e balizada pra receber os milhares de visitantes que vão todos os anos conhecer o curioso resultado da ação humana sobre a natureza. Dois percursos são possíveis: um curto, tempo estimado de 35 minutos, e o percurso completo, com tempo estimado de 50 minutos, foi este último que escolhemos e pudemos fazê-lo no fim do dia, pouco antes do horário de fechamento do local (a bilheteria fechava às 18h30 quando fomos, mas entramos antes desse horário, e saimos pouco antes das 19h, horário de fechamento. O quadro completo de horário de funcionamento pode ser visto aqui). Esta foi a segunda antiga mina de ocre que visitamos na Provença, já tinhamos visitado a usina perto de Rustrel, conhecida como Colorado Provençal, em 2011 quando fomos voar de parapente na região, leia mais sobre a aventura e o passeio neste post.

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Informações práticas:

Os estacionamentos em Gordes e Roussillon tem tarifa única de 3€, e a entrada no Sentier des Ocres custa 2,50€ por pessoa, 1,50€ a tarifa reduzida para grupos com mais de 15 pessoas, e gratuito para crianças com menos de 10 anos.

Distância de Aix-en-Provence à Gordes: 67km (pela estrada departamental), 81km pela autoestrada (55km em autoestrada, 3,90€ de pedágio)

 

 

 

 

 

20 Responses

  1. Anônimo

    Olá! Gostei muito do seu blog e estou pegando algumas dicas para minha viagem à Provence, que ocorrerá do dia 24/06 a 04/07. Eu e minha família (marido e dois filhos, um de 8 anos e uma bebê de 6 meses) fizemos um roteiro passando por vários lugares que vc cita no seu blog, por isso está sendo de grande valia. Como vc mora na região, gostaria de tirar uma dúvida: as crianças são bem aceitas em restaurantes? Gostamos muito de aproveitar a parte gastronômica das viagens, mas temos receio quanto á receptividade das crianças. Se vc puder me dar algumas dicas, agradeço! Abraço, Margareth

  2. Natalia Itabayana Junqueira de Mattos

    Oi Margareth!

    Poxa, fico super feliz e extremamente lisonjeada em saber que "inspirei" o roteiro de vocês, espero que façam uma viagem inesquecivel!
    Quanto às crianças em restaurantes, não se preocupe, isso é um "mito", e explico: os franceses são os reis da gastronomia, apaixonados por bons restaurantes e boa comida (não necessariamente cara, mas de qualidade). Ao mesmo tempo, tem a maior taxa de fecundidade da Europa: média de 2 filhos por casal (sendo super comum ver familias com 3 crianças). Assim sendo, os petits são sim aceitos sem problemas nos restaurantes (talvez a fama venha dos gastronômicos chiques com lista de espera imensa onde negocios bilionarios são fechados, pesquisarei). Podem vir despreocupados, a maioria dos restaurantes tem inclusive o menu infantil, todo restaurante deixa à mostra dos clientes em potencial o menu completo, com valores e opções, confira antes se a opção infantil é disponivel pra agradar os pequenos (geralmente eles servem nuggets de frango, salsichas ou steak haché, que é bife de hamburguer, acompanhados de batatas fritas e salada e uma bebida – sirop, que é um concentrado de suco de fruta em varios sabores).

    Abraços!

  3. whatdoitravelfor

    Ótimo post! Fizemos a rota Gordes-Sénanque-Roussillon em Outubro do ano passado e amamos.
    Essa região é muito linda, mas ainda precisamos voltar pra pegar um fim de semana ensolarado. (:

  4. Natalia Itabayana

    Adoro a região do Luberon, mas ainda não fiz essa visita no outono, sempre vamos no verão levar os hospedes! Vou voltar no outono so pelas cores 🙂

  5. Fernanda Ruiz

    Ola Natalia, tudo bem? Primeiramente, parabens pelo blog! So' de ler os seus posts parece ate' que eu ja' estive na Provence, textos muito gostosos de ler e uma foto mais linda que a outra! Estou planejando minha primeira visita a Provence no proximo mes de julho e gostaria da sua opiniao: voce acha que Gordes e' uma boa base para explorar a regiao? Eu vi outros posts onde voce sugere Valensole por exemplo para aquela vista de cartao postal dos campos de lavanda, eu vi tambem algumas informacoes sobre Moustiers Saint Marie e tambem gostaria de visitar essa cidadazinha, mas voce acha que esses lugares ficariam muito longe ou fora de mao saindo de Gordes? E o transito fica muito ruim no mes de julho por ser alta temporada? Toda e qualquer sugestao e' muito bem vinda! Merci! 🙂

  6. Natalia Itabayana

    Oi Fernanda!
    Minha opinião (e também a do Ricardo Freire que fez um roteiro legal aqui na região no Viaje na Viagem) é que vilarejos não são boas bases pelos seguintes motivos: a hospedagem é cara, principalmente na alta temporada, as opções de restaurantes e atividades noturnas são escassaz. Prefira Aix-en-Provence ou Avignon como base pra visitar os destinos de interesse na região. Se quiser pernoitar em Moustiers-Sainte-Marie, uma noite vale a pena. De lá se visita Gorges du Verdon e os campos do plateau de Valensole. As estradinjas em julho ficam mais movimentadas, e atentem a não deixar objetos à mostra quando estacionarem o carro.

  7. Izabel Philippe

    A Igreja de Gordes é belissima com seus afrescos coloridos. inesquecivel.. a mais bonita das igrejas wue vi desta vez.. O vilarejo é um encanto.. Roussilllon é surpreendente nos seus tons terrosos.. amei os dois.. perto deli tem Fontaine Vaucluse.. uma pausa refrescante no calorento verão da Provence.

  8. Cláudia

    Olá Natália!
    Adorando as suas dicas!!!. Acho que preciso da sua ajuda!!
    Apesar de não ser a época ideal, em Dezembro passarei alguns na região da provence. Estou pretendendo ficar em Aix-en-Provence e fazer bate e volta nas cidades vizinhas ( Gordes, Roussillon, Avighon) depois ir a Nimes, Montpellier e chegar até Carcassone. Pretendo ir de trem e onibus. Gostaria de saber se esses passeios são viáveis no mês de dezembro e se é fácil o transporte entre essas cidades.
    Obrigada!!!!

  9. Heloiza

    Olá Natália.
    Adorei o seu blog.
    Eu estou programado uma viagem em junho cozinha, e sempre quis conhecer está região.
    Eu poderia fazer este trajeto sem carro, só usando transporte público?
    Um abraço
    Heloiza

  10. Katia Molin

    Amei suas dicas. Pretendo ficar em Aix-en-Provence em outubro e fazer um bate e volta p Arles, Roussillon e Gordes. É possível fazer esse roteiro de ônibus?
    Um abraço e super grata
    Katia

  11. Anônimo

    Olá, estou planejando essa viagem sozinha, estarei em um evento profissional em Aix-en-Provence, acha tranquilo?

  12. Anônimo

    Delícia seu blog !!! Me dá uma ajuda ? Tenho chances de não ver as lavandas floridas entre 4 e 10 de Julho ?Tô tensa pois me organizei para começar por Aix nesssas datas e terminar em Nice na semana seguinte…
    BJS, CLAUDIA

  13. Unknown

    Oi Natália, vamos a Provence em junho e faremos gordes e moustiers sainte Marie de base, além de chegar até a Côte d'Azur. Vale a pena passar uma noite em Auxiliar en Provence também?
    Obrigada

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