Santon vem do provençal e significa “santo”. Meu primeiro contato com os santons provençais foi durante o primeiro natal que passamos aqui, em 2010. Passeava pela feira de natal, que todo ano enfeita o Cours Mirabeau, e próximo à Rotonde vimos várias barraquinhas expondo bonecos de barro com trajes provençais, além de belos presépios compostos por imagens no mesmo estilo. Alinhados cuidadosamente e dispostos em função do seu tamanho, os bonecos são em grande parte coloridos, seja pelos trajes que ostentam, seja pelo trabalho minucioso de pintura que é feito pelos artesãos.
Cada personagem representa uma profissão, seja ele homem ou mulher: padeiro, pescador, fazendeiro, músico, professor, pastor, etc., cada qual devidamente customizado, com trajes e objetos que indicam a atividade que exerce. Todos esses personagens compõem, juntamente com as figuras bíblicas de Maria, José e o menino Jesus na manjedoura cercado pelos animais, o presépio provençal. Além das profissões, há também os ciganos, que são representados por figuras que dançam e tem seu lugar na disposição do presépio.
Origem dos santons provençais
Conversando com um santonier durante um passeio por Miramas-le-vieux, perguntei sobre a origem da tradição, e ele explicou que o provençal sempre foi muito devoto, mas que durante a revolução francesa, com a separação entre igreja e estado, as manifestações religiosas foram proibidas, e os presépios eram criados de maneira clandestina, usando miolos de pães, para enfeitar a cerimônia de natal. Tão logo a celebração chegava ao fim, os santons eram escondidos até o ano seguinte, mas por serem perecíveis, perdiam-se ao longo do tempo. Assim, santons de madeira foram confeccionados, e alguns poucos existem, pois reza a tradição que um santon deve ser passado ao longo das gerações em família. A confecção dos santons em barro é relativamente recente, e remonta há cerca de um século.
Os artesãos propõem todos os mesmos personagens, além de criações próprias que levam assinatura personalizada, como é o caso do famoso “coup de mistral” de Paul Fouque, santonier premiado de Aix-en-Provence que criou um personagem com vestimentas de pastor do ovelhas caminhando contra o forte vento mistral, que sopra com violência sua capa. Mas o que lhe rendeu o prêmio de “Meilleur Ouvrier de France”, um prêmio que destaca o melhor artesão em diversas áreas (confeitaria, padaria, gastronomia, dentre outras) foi justamente o arranjo de um presépio elaborado por Fouque. O presépio premiado, assim como o atelier e os santons do artesão, podem ser visitados em Aix, perto do Parque la Torse.
História da região em figuras em argila
Apesar do caráter ligado à figuração do presépio durante a celebração natalina, grande parte dos santons tem características laicas e representam personagens da Provença de outrora, e de ocupações que ainda hoje existem. Além dos personagens, os artesãos também criam todo o cenário: casas, pontes e fontes, e por vezes vilarejos inteiros em tamanho reduzido, em peça única ou então em prédios individuais pra compôr ao gosto do cliente. Os que mais me encantam são aqueles que evocam movimento, ou que são motorizados: moinhos de vento que rodopiam, fontes com água corrente, tudo completado pelos personagens dispostos de forma a reproduzir cenas do cotidiano.
O processo de fabricação dos santons é todo artesanal, o que justifica seu preço – um santon de 30cm custa cerca de 60 euros. Primeiro, o artesão cria um personagem diretamente no barro, modela e leva ao forno por 72 horas. Somente após esse processo ele pode criar o molde para a produção das demais peças do mesmo modelo – isso em se tratando de personagem novo. O mesmo processo é repetido para os diferentes tamanhos do mesmo personagem. Os santonniers trabalham o ano todo, e seus ateliers são abertos à visitação grande parte do ano. Já visitei dois ateliers em Aix-en-Provence (Fouque e Girault) e um em Miramas-le-vieux.
Valorização dos santons provençais
Além da feira dos santons em Aix-en-Provence acontece também um concurso de presépios provençais, e o vencedor tem seu presépio exposto no Oustau de Provence, o casarão que fica no Parque Jourdan e que é dedicado à cultura provençal, e durante o período natalino é aberto ao público com exposições tradicionais. Marseille também tem artesãos que expõem seu trabalho no período natalino, na praça do general de Gaulle, na frente do prédio da Câmara de Comércio, perto do Vieux Port. A cidade de Aubagne é conhecida como a “cidade dos santons”, onde a atividade é tradicional, e muitos dos santonniers de Aubagne expõem na feira em Marseille.
Endereços de alguns dos santonniers provençais
Santons Fouque – 65 Cours Gambetta, Aix-en-Provence
Santons Girault – 35 Rue Bédarrides, Aix-en-Provence
Santons Lou Pitchoun Ataié – 1, Rue des Cigales, Miramas
Santons Richard – 955 Chemin de Bouenhoure Haut, Aix-en-Provence
Santons Jouve – 2 Allée du Capricorne, Groupe Chapuis, Luynes
Santons Daniel Galli – Rue du Buis, Ansouis
Santons Marcel Carbonnel – 47 Rue Neuve Sainte Catherine, Marseille
Santons Magali – 8 Rue Martinot, Aubagne
Santons Truffier – 84 Chemin de Sainte Annette, Gréoux-les-bains
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