Castelo medieval em Les Baux de Provence

Encrustrada no massivo dos Alpilles, cadeia montanhosa protegida desde de 2006 quando foi criado o Parque natural regional dos Alpilles, a cidade medieval de Les Baux de Provence carrega no nome um dos componentes rochosos da região: baux refere-se à bauxita, mas foi adotado como sobrenome da família que dominou a região por bastante tempo. A cidade é inscrita no comitê de “Vilarejos mais belos da França” que tem por objetivo valorizar o patrimônio, o território e reconciliar essas cidades com o futuro, sem transforma-las em museus ou lugar de pura atração turística, com preocupação em valorizar a cultura local e evitar a “desertificação rural”, ou o êxodo para os grandes centros urbanos.

A ocupação da região data da pré-história e os habitantes tem em comum o recurso à proteção das rochas: o castelo e casas foram esculpidos e adaptados com o passar do tempo e das sucessivas tentativas de invasão. Parcialmente restaurado, o castelo e as habitações são um registro histórico interessante do esforço de sobrevivência e adaptação dos habitantes, que tiveram de lidar com a escassez de água construindo poços que armazenavam a água das chuvas, o frio cruel trazido pelo impetuoso vento norte, o frio, forte e seco mistral (em duas das quatro vezes que visitei a cidade, ele soprava à cerca de 100km/h) e as guerras.

Nossa primeira visita à cidade foi no verão de 2010, em companhia dos amigos Thaís e Bruno. A cidade estava cheia de turistas, e não sem razão: entre abril e setembro é possível assistir, no castelo, à demonstrações de tiro de armas medievais de invasão e lutas de espadas. Além disso, há programações que variam a cada ano, e este ano tiveram também apresentações de animais treinados durante os fins de semana, além das outras demonstrações, mas acabou que o tempo passou e não vimos os ursos, águias e outros animais. A visita do castelo pode ser feita em umas duas horas, e o ingresso dá direito a um audio-guia em vários idiomas, inclusive em português!

Dentro do domínio do castelo podemos visitar a Capela Saint Blaise, construída no século XII e onde é projetado em permanência o filme “A Provença vista do céu”, com imagens magníficas da região e de suas principais atrações. As ruínas do hospital são hoje palco das demonstrações de luta de espada e ficam próximas às máquinas de sítio. Do alto do plateau a vista sobre a Provença é deslumbrante e oferece, em dias com céu limpo, uma visão do mediterrâneo. E as crianças são envolvidas na visita através de uma caça ao tesouro: um roteiro preparado para conciliar aprendizagem histórica e diversão! E eles adoram, já pude perceber como se envolvem na brincadeira e como aprendem sobre os acontecimentos do lugar!

Além do castelo, a cidade em torno oferece todos os atrativos de uma cidade provençal, com suas lojinhas de souvenirs de porcelana colorida, perfumes e sabonetes, lavanda, restaurantes que servem pratos típicos: aïoli (uma maionese ao alho, que merece um post especial), ratatouille provençal e grelhados. Uma das curiosidades da região é um vale, que fica logo na entrada da cidade, que é chamado de Vale do Inferno, e que inspirou a paisagem do inferno descrita por Dante Alighieri em sua obra “Divina Comédia”. Considerando os fatores meteorológicos (vento, frio, chuva, neve) acho que possível entender porque o autor se inspirou no lugar, apesar de sua beleza natural. E esse vale faz parte de um aspecto natural da cidade que a faz merecer o título de beleza: além da cadeia montanhosa, a planície que percorremos antes de chegar é cheia de oliveiras e vinhedos e faz parte de uma das rotas do vinho da Provence.

Vale do inferno

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