Serre Chevalier |
O dia D foi 10 de dezembro de 2010, em Vars, primeiro dia da temporada de ski, e primeira vez na vida que eu praticava o esporte. Na cara de pau, subi nos skis e tentei, cai, tentei de novo, cai inúmeras vezes, até que a derradeira foi cruel, e ganhei uma lesão nos ligamentos cruzado e menisco que me deixou de molho por 3 meses, durante os quais fiz fisioterapia e andei de bicicleta até receber a liberação pra voltar a correr e, porque não, tentar esquiar.
Eu, Jana, Thais e Silvia |
Tudo bem, eu não deveria voltar a esquiar nessa temporada, segundo meu ortopedista e a fisioterapeuta, mas sabe quando você diz à uma criança que se ela enfiar o dedo na tomada vai tomar um choque, sem ela saber o que é um choque, e ela faz assim mesmo? Pois é, minha relação com o ski é mais ou menos a de uma criança com seu brinquedo ou brincadeira favorita. Lembro bem dos dias de clube, quando minha mãe chamava pra ir embora, e eu, quase criando escamas dentro da piscina, pedia pra ficar um pouco mais. Ou então quando ganhei meu primeiro triciclo (disto não lembro, mas me contam) e fiquei tão feliz com o presente que dormi sentada nele. Com o ski foi mais ou menos isso, então o choro que me invadiu quando a maca chegou pra me buscar na pista foi de tristeza, e não de dor. Era uma criança de 28 anos sendo levada pro posto médico, e que foi privada da brincadeira na neve por 3 meses.
Fiz exatamente o que o ortopedista falou: no inverno, com ou sem mistral, não importava a temperatura, a bicicleta foi meu meio de transporte e de recuperação. Fui de bicicleta pra fisioterapia, que fiz com uma disciplina que pensei não ter (sou preguiçosa, e desisto fácil das coisas). Na última semana de recuperação, olhei pra fisioterapeuta, fiz aquela cara do gato de botas do Shrek, e perguntei se poderia esquiar ainda essa temporada. Ela me olhou com cara de quem iria me tirar todas as esperanças, e disse pra eu me aquecer bem e aconselhou a fazer uma aula antes. Pronto, me senti liberada pra descer do topo do Mont Blanc e me candidatar à próxima esperança brasileira nos jogos olímpicos de inverno!
Exageros à parte, fomos pela última vez nesse inverno à estação, onde fazia um calor de 14° (sim, isso é quente pra caramba numa estação de ski). Lá estávamos nós, em Serre Chevalier, já na primavera, querendo viver na era dos esquimós. Sábado e domingo pra aproveitar, e só aproveitei o domingo, porque no sábado minhas pernas tremiam tanto em cima do ski que pensei estar no epicentro de um terremoto. Nem tentei mais que 10 metros nesse dia, e meu pensamento estava tão comprometido que não pensei em fazer uma aula. No domingo, já com o bronze que adquiri no terraço do restaurante no dia anterior, cheguei perto de um dos tiozinhos de casaco vermelho da escola de ski e disse que queria fazer uma aula.
O instrutor era um senhor super simpático, que me ensinou muito bem como não cair, como frear e fazer curvas na pista, em uma hora, coisa que eu não pensava ser possível. Foi a aula mais feliz da minha vida, e depois que acabou passei o resto do tempo que sobrava antes da viagem de volta pra casa a subir e descer pista de ski, e acabei esquecendo de almoçar, beber água, ver as horas, me dar conta de que o resto do mundo existia. Foi exausta, mas de alma lavada, que voltei pra casa, nesse primeiro fim de semana de abril, o último que fomos ao ski.
Lanchinho de Luna em Carry-le-Rouet |
No fim de semana seguinte, sairam os skis e entraram bikinis, óculos de sol e toalha de praia. Uma semana depois de ver a neve nos Alpes, foi a vez de molhar de novo os pezinhos no mediterrâneo, de dar boas vindas aos dias longos, de deitar na praia e ouvir o barulho do mar. Dos Alpes aos Calanques em uma semana, do inverno pro auge da primavera com temperaturas de verão, fomos nos render de novo às graças do azul imenso do mediterrâneo, e lembrar que o mar está logo ali, há poucos quilômetros de distância…
Calanque de Sugiton, Marseille |
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