Sempre sou questionada por amigos e colegas sobre como se deu a adaptação aqui, e minha resposta é, da melhor maneira possível, sem dramas.
A primeira pergunta é fatalmente relacionada à alimentação, se mudou muito, se sinto falta de algum alimento, o que comemos normalmente, se aprendi receitas novas. Dizem que a comida francesa é sem tempero, sem gosto. Não achei a comida sem gosto, muito pelo contrário, eles não tem o hábito de entupir de vários temperos diferentes e sem nenhuma relação uns com os outros a comida.
O tempero básico deles: sal e pimenta do reino. Ninguém salga ao ponto de tirar o gosto da comida, muito menos usam quantidades insanas de pimenta, tempera-se na medida certa pra realçar o sabor. Dependendo do prato, usam cebola ou échalote, que é bem parecida com cebola, e fazem molhos com curry, páprica, alho, mostarda e mais uma infinidade de temperos, de acordo com o prato pra não virar um samba do criolo doido.
Comem-se muitos legumes, e eles gostam de privilegiar os legumes e frutas da estação, mesmo que durante o ano todo encontremos no mercado legumes e frutas que não necessariamente são típicos da estação atual. A diferença entre um legume ou fruta sasional e um que não seja é o sabor e o cheiro. Um hábito comum de se ver no mercado: cheirar o alimento. Se tem cheiro bom, tem gosto bom, se não tem cheiro, o gosto vai ser besta.
Não aprendi receitas específicas, mas aprendi a cozinhar um pouco melhor, sem tirar a cor e o sabor da comida. Tempero com o sal básico e deixo a liberdade de escolher o que mais se joga por cima da comida, às vezes tempero com curry, outras com tempero de Colombo, um misturado de cominho, curry e outras especiarias que combinam muito bem com picadinhos de peito de peru e carne.
Uma coisa me chocou um pouco no começo: o preço do peito de frango, às vezes mais caro que carne de boi, e que substituímos pelo peito de peru, mais suculento e mais barato. Como estamos do lado do Mediterrâneo, frutos do mar são sempre frescos, de vez em quando temos risotto de frutos do mar pra alegrar a mesa.
Não sentimos falta do feijão, em pouco mais de seis meses compramos dois quilos de feijão que duraram praticamente o tempo que estamos aqui, e na maioria das vezes preparava chili con carne ao invés da receita tradicional. Compramos feijão vermelho, que tem a fava bem grandona e que eu particularmente acho mais gostoso, mas gosto não se discute!
As sopas de legumes que fazia pro jantar durante a primavera deram lugar aos refogados de legumes no verão, mas agora no outono voltaram ao prato, e desta vez vão ganhar a abóbora como ingrediente sasional.
Comemos baguette, e o hábito de comer a pontinha dela quando ainda estamos no caminho entre a padaria e o carro, ou entre a padaria e a cestinha da bicicleta já ficou comum, impossível resistir à pontinha de uma baguette quentinha!
Toque de canela no crumble de maçã |
Quanto aos doces, bom, são gostosos, mas como não são muito minha praia, não esperem que eu diga como são os eclairs (nunca comi um aqui). O gâteau preferido dos franceses é, ironicamente, inglês: o crumble, feito de farinha de trigo, manteiga e açúcar, podemos usar maçãs, frutas vermelhas, pêra e mais uma infinidade de frutas na preparação, sem falar que existe também a versão salgada, que nunca fiz. O primeiro (e único) crumble que fiz foi de frutas vermelhas, nem tirei foto, mas Bernardo fez um de maçã semana passada que mereceu foto e o chef tá de nota 10, ou melhor, pode receber 3 estrelas pelo doce (os chefs de restaurante aqui são estrelados pelo guia Michelin, e 3 é o número máximo de estrelas concedidas ao chef e ao restaurante)!
Crumble de maçã com geleia de cereja |
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