Bizarrices do dia-a-dia

postado em: Vida na França | 1
Poucos dias depois do retorno da família ao Brasil eu já tinha conseguido retomar minha rotina, o que incluía idas eventuais ao centro, seja pra bater perna ou ver o que presta nessa época de liquidação. Mas desta vez eu tinha uma tarefa extra no centro: levar a capa do sofá na lavanderia, porque além de gigante e não caber na minha máquina de lavar (o que descobri depois de duas tentativas frustadas de lava-la), ela tem de ser lavada a seco. Pois bem, existem profissionais no mundo pra fazer aquelas coisas chatas que podemos evitar, então lá fui eu, a capa gigante dentro de uma sacola igualmente gigante, e Luna Maria dentro de sua bolsa, e todos nós dentro do ônibus. 
Chegando ao centro me encontrei com a amiga Cinthia, que me esperava cheia de sacolas ao lado da estátua de Cézanne (a cena merecia uma foto, mas minhas mãos estavam muito ocupadas com a sacola gigante da capa gigante). Subimos até a lavanderia, desviando dos velhinhos que invadiram o centro da cidade naquele dia frio, e dos adolescentes com cara de… adolescentes, que vão ter um destaque especial mas à frente neste texto. Neste ínterim, Cinthia me contava a saga do disjuntor e da bomba de água de sua residência… Me revoltei e quis dar uma bofetada em que merecia, mas não tinha ninguém bofeteável no caminho, então xingamos e continuamos caminhando até a lavanderia dividindo o peso daquele trambolho…
Quando entramos  na lavanderia, pisei no cachorro que fica lá, ou melhor, ele se enfiou debaixo dos meus pés e a  pisada foi inevitável. Entreguei o trambolho pra moça, que disse que ficaria pronto nessa sexta feira, e fomos eu, Cinthia e Luna de volta pra Cours Mirabeau tomar um chocolate quente, real motivo do nosso encontro. Colocamos a conversa em dia e depois cada uma seguiu pra sua casinha. Isso foi na quarta feira.
Na sexta feira, como a moça da lavanderia havia me dito que o capa ficaria pronta na parte da tarde, aproveitei a parte da manhã pra estudar um pouco, arrumar alguma coisa na casa e depois do almoço fui ao centro buscar o trambolho, e não poderia demorar muito por lá porque teria minha primeira sessão de fisioterapia no fim da tarde, consequência da brincadeira no ski. Embarquei no meu ônibus habitual que vai ao centro, e um ponto depois de minha subida o ônibus foi “invadido” por adolescentes, cada um de um tipo mais esquisito que o outro, e fiz minha primeira nota mental de alta importância: 16h é a hora de debandada da escola, e uma péssima hora pra estar dentro do ônibus. 
Devem ter entrado uns 15 “adôs” no ônibus, e todos indo pro mesmo lugar que eu… Eu já fui adolescente, e uma adolescente bem crisenta, mas eu tomava banho e penteava os cabelos, mesmo no auge da minha crise, coisa que aqui eles não fazem de jeito nenhum, então imaginem a delícia que era estar cercada de uma pequena multidão de adolescentes descabelados e “cheirosos”. Não consegui tirar nenhuma foto, mas imaginem a seguinte cena: você tem uns 15 anos, umas espinhas no rosto, seus pais te mandam cortar o cabelo e você, com todo aquele espírito de contestação (espírito de porco mesmo) decide deixar o cabelo do jeito que tá pra ser “cool” (aqui eles usam a expressão em inglês mesmo). Não bastasse a falta de corte da peruca, junte a isso o fato de pente ou escova de cabelo não fazerem parte do seu arsenal de banheiro. Resultado: parece que alguns dos moleques enfiam o dedo na tomada antes de sair pro colégio ou simplesmente dormem de cabelo molhado pro resultado ser o penteado estilo “acabei de acordar”.
Mas nem todos os meninos se “penteam” dessa forma. Tem aqueles que preferem o estilo Justin Bieber. Prefiro não comentar, tirem suas próprias conclusões. Tem também os meninos que não se enquadram em  nenhum desses estilos, e são um tanto… normais. Agora, quanto às meninas, às variações dos penteados se juntam também os estilos de maquiagem. Não sei como elas “arrumam” os cabelos, jogados pra um extremo da cabeça, o que as faz andar com a mesma um tanto tombada pro lado onde vão as mechas, e que deve render uma dor no pescoço no fim do dia. Nos olhos, trocentas camadas de rímel borrocado, lápis de olho igualmente borrocado e um gloss nos lábios. Quando eu tinha essa idade, a boca era pintada de preto e o cabelo também, lápis preto nos olhos, mas nada do efeito borrocado. Mas nem todas são assim, tem as que preferem o estilo Blake Lively e penteiam os cabelos. Torço pra um dia, quando eu for mãe, não me deparar com meu filho ou filha descabelados por aí…
Desci do ônibus com minha melhor cara de elevador, a mesma que faço pra quando entro também, aquele olhar perdido no horizonte, e ma total falta de expressão no rosto, salvo durante as estúpidas freadas dos motoristas, que devem ter iniciado uma competição pra saber qual deles vai conseguir arremessar mais longe um passageiro, dentro do ônibus e depois, por que não, fora dele. No caminho até a lavanderia, comprei um sorvete, porque no inverno o sorvete fica mais gostoso e não vai piorar em nada a tosse que me acometeu. Chegando na lavanderia, descobri que a capa do sofá não estava pronta, “Je suis désolé, madame” (Desculpe, senhora), mas só na próxima semana… E ela ainda me perguntou se eu estava com pressa pra ter a capa, e eu disse que não. Pressa por que? Continuo sentando no meu sofá do mesmo jeito… 
Floquinhos de neve e o broto de tulipa
O jeito era voltar pra casa rapidinho, porque estava quase na hora da minha primeira sessão de fisioterapia. O freak-show não se restringiu ao caminho de ida ao centro, mas na volta pra casa o ônibus foi igualmente invadido por adolescentes com cabelos esquisitos, cheiros suspeitos e caras de tédio. O que compensou nessa saída infrutífera ao centro foi a paisagem do caminho: durante a noite nevou em Aix durante quase uma hora, e a neve acumulou nos telhados, em plantações e calçadas pelo caminho… Só consegui tirar uma fotinho, com a câmera do meu celular, de uma plantação de trigo no meu caminho até a fisioterapia, com um restinho de neve. Além dessa, tem a foto do meu vasinho de tulipa com alguns floquinhos, mas os telhados as calçadas branquinhos ficaram sem registro.
Restinho de neve no campo de trigo
Chegando em casa, peguei minha bicicleta e fui pra fisioterapia. Pedalar e caminhar foram as primeiras atividades que o ortopedista me liberou pra fazer, a corrida e o ski vão ter que esperar um pouco mais. Segundo a fisioterapeuta, que conhece o Brasil e já visitou mais cidades do que eu (passou 3 semanas no Brasil durante sua lua-de-mel), a próxima atividade que o médico deve me liberar pra retomar vai ser a corrida. Fiz minha primeira sessão e não senti dores. Quando estava terminando o exercício de equilíbrio na prancha, uma menininha de um pouco mais de dois anos entra na sala, com uma chupeta gigante na boca, e abre um sorriso maior que a chupeta pra mim. Achei que ela estava ali acompanhando a mãe, mas era o contrário: a menininha começou a tirar a bota, depois o macacão, até que ficou somente de blusa e fralda. Perguntei à mãe o que ela tinha: bronqueolite. Estava ali pra fazer fisioterapia respiratória, e quando sai da clínica pude ouvir o choro da menininha começando sua sessão… Crianças não deveriam ficar doentes…

  1. Marta

    NÃO… não deviam MESMO ficar doentes!!! Pq a gente daria a alma pra trocar de lugar com eles para não sofrer…
    Duas coisas "acho" que Deus pecou: crianças ficarem doentes e Ele chamar nossos filhos antes de nós… Deveria ter uma LEI UNIVERSAL proibindo isso!

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