Lá se vão 3 anos desde que pusemos o pé na estrada depois da chegada do Vic, e foram viagens que nos proporcionaram muito perrengue aprendizado em vários aspectos. A mais temida de todas foi, sem dúvida, nossa primeira viagem de avião com bebê. Depois da compra da passagem, suava frio só de pensar nas 12 horas trancados numa lata de sardinha voadora com um bebê de 9 meses. Mas sobrevivemos todos, sem traumas ou sequelas.
De lá pra cá, nos adaptamos em muitos aspectos pra facilitar nossa vida e pra acompanhar também o desenvolvimento do bebê – eles crescem, viram crianças, e viagem de avião com bebê e criança não tem exatamente os mesmos percalços ou envolve os mesmos preparativos. Vou contar nossa experiência desde o primeiro voo longo entre Paris e Rio até o mais recente de Tóquio à Munique, ambos coincidentemente com duração de 12 horas, um noturno, o outro diurno. E ambos parte maior de trajetos entre nosso ponto de partida, o aeroporto de Marselha.
A primeira viagem de avião com bebê
Vic tinha 9 meses quando embarcamos pela primeira vez pro Brasil com ele. Sua primeira viagem foi de carro aos 4 meses quando fomos passar o Natal na Suíça, e a segunda viagem foi de trem pra Normandia, de longe a viagem com mais lembranças doloridas porque seus primeiros dentes estavam nascendo – e só nos demos conta quando voltamos pra casa.
Nosso trajeto era Marseille-Paris-Rio-BH. Tudo isso com um bebê bochechudo de 9 meses, redondinho e fofinho, que iria viajar o tempo todo no nosso colo, num voo noturno de cerca de 11 horas. Fizemos a reserva pelo site da Airfrance e não me toquei em ligar pro atendimento ao cliente e pedir assento especial com berço pra ele, pois ele não iria mesmo dormir no berço.
Primeiro erro de principiante: mesmo se o bebê não se adaptar ao berço, o assento é aquele na fila do meio do avião, atrás do espaço de galley ou banheiros, ou seja, tem uma parede na nossa frente e mais espaço para as pernas. Não que meus 1,57m de altura me ponha no patamar de Ana Hickmann, mas ter um bebê no colo num espaço deveras diminuto faz muita, MUITA diferença. O berço fez falta? Muita, pois tivemos de nos revezar para um comer enquanto o outro servia de travesseiro, idem pra ir ao banheiro. Pra volta, liguei e reservei o assento com berço. Aprendi pela dor, né.
Se você vai viajar de avião pela primeira vez, leia as dicas da Alyssa para se preparar para a viagem!
Como lidar com choro de bebê no avião?
Bebê e choro são coisas indissociáveis. Me incomoda – desde antes de pensar em ter filho – o olhar de desprezo/reprovação que em geral é endereçado aos pais de uma criança que chora. Mas quando é chulé/cecê/pum e por aí vai de adulto, ou conversas excessivamente altas em um ambiente fechado compartilhado com centenas de outros estranhos muitas vezes exaustos, isso ninguém reclama.
Claro que choro de bebê foi uma grande preocupação minha, estaríamos confinados numa imensa lata de sardinha voadora – avião – sem poder ir lá fora pra acalmar a criança, ou entre dois vagões. Perguntei pra outros pais, conversei com uma comissária de bordo conhecida – que me tranquilizou, os comissários são super acostumados com bebê e criança em voo, choro é normal. Choro de bebê sempre quer dizer algo – em geral, os pequetitos manifestam o incômodo com a mudança de pressão. A orientação que recebemos dos comissários de bordo no primeiro voo com Vic foi pra que ele tivesse algo pra sugar (vale o peito/chupeta/mamadeira).
Batismo de voo: primeira viagem de avião com bebê
E o como foi essa primeira viagem de avião com bebê? Ele dormiu antes mesmo do avião sair do solo, mas segui a recomendação – mais por insistência da comissária do que pelo receio de que ele sentisse incômodo. E aos poucos vimos que não era algo que o incomodasse de fato, em outras ocasiões ele ficou super bem durante decolagem/pouso. Durante um voo em particular ele se queixou de incômodo – o mais recente, justamente porque estávamos os dois nos recuperando do combo de doenças de inverno. Dei uma água pra ele beber e a equalização de pressão aconteceu no primeiro gole.
Ele não chorou em momento algum dos primeiros voos. Mais crescidinho, quando dormir praticamente o tempo não é mais o que ele faz, o choro de cansaço eventualmente aconteceu – como no voo Tóquio-Munique, agora em outubro de 2018. Identificamos que era cansaço, conversamos com ele e rapidinho Bernardo conseguiu fazê-lo dormir. O voo era diurno, mais complicadinho, mas no geral quando bate o cansaço dorme e pronto.
Troca de fralda no avião
Só ir ao banheiro e usar o trocador que fica em cima do vaso sanitário. O espaço é diminuto, nunca troquei eu mesma o Vic nos voos, sempre foi o pai, mas ele se virou super bem, dentre mortos e feridos, todos sobrevivemos. Vic ganhou seu certificado de batismo aéreo no primeiro trecho da viagem entre Marselha e Paris, e os voos seguintes foram tranquilos.
Nessa primeira viagem, fizemos um total de 8 voos com ele sem nenhum problema – leia-se: sem choros de ensurdecer os demais passageiros do avião, sem explosões de caca entre decolagens e pousos, e sem acidentes de outras naturezas. Mas é sempre prudente prever uma muda de roupa extra pros adultos que acompanham o bebê, a gente nunca sabe qual jato pode macular nossas vestimentas, e pode ser inclusive um bebê que bate sem querer na nossa bandeja de comida. Nem tudo é nojento nessa história, mas pode sim ter uma pequena bagunça.
Podemos levar conosco na cabine todo o aparato pra cuidar do bebê – inclusive garrafa d’água pra preparar mamadeira, sem limite de capacidade (como acontece em geral nos voos pela Europa, em que temos o famigerado limite de 100ml por frasco). Tudo que é pra bebê/criança passa – Vic acabou de voltar com meio litro d’água que foi liberado no raio-X, porque era pra ele, agora em janeiro de 2019.
Acho legal pensar num frasco de álcool gel – eu limpo todos os trocadores com ele, mesmo colocando uma fralda de pano por cima pra cobrir depois. Levava também uma boa quantidade de fraldas na bagagem de mão, distribuídas de forma bem acessível nas mochilas – em geral, nunca levei menos de 1 fralda pra cada 2 horas de voo. Também vestia o Vic com roupas práticas pra não ficar muito tempo abrindo/fechando/tirando/vestindo criança.
Sobrevivendo a voo diurno e longo
Em maio de 2017 encaramos minha mais temida prova de fogo em termos de viagem de avião com bebê: um voo longo diurno quando fomos ao Canadá. Vic tinha 1 ano e 7 meses na época, eu estava apreensiva pois nosso voo decolava no início da tarde e provavelmente ele não dormiria o voo todo. E foi isso mesmo que aconteceu, impossível fazer a criança trocar o fuso horário ainda no avião. Pra nossa sorte, ele dormiu uma boa parte do trajeto, mas depois de ter acordado, queria andar um pouco, e acompanhamos ele pelo corredor do avião.
Levei livros novos pra ele brincar, e também usamos o kit infantil que ganhamos no avião, com material para colorir e adesivos – adesivos são EXCELENTE forma de entreter crianças pequenas em voos longos. Mas também contamos com a boa vontade de um casal que estava sentado ao nosso lado, e que se ofereceu pra ficar um pouquinho com ele pra gente lanchar. Era um casal indiano indo pro casamento do sobrinho. O Vic ficou fascinado com as unhas decoradas da mulher, sua roupa e colares, e com o turbante do homem, e nós ficamos encantados com o gesto de estranhos para com estranhos, sendo que eles tinham no voo a netinha pequeninha.
O saldo dessa primeira viagem foi muito positivo no avião, nem tanto quando chegamos em Vancouver, pois acostumar o pequeno à diferença de 9 horas a menos com relação à nossa casa foi um desafio e tanto.
Entretenimento de bordo
Todas as companhias com as quais já voamos longas distâncias com o Vic tem opção de entretenimento de bordo para crianças. A primeira vez que liberamos a telinha pra ele assistir outra coisa diferente do avião no mapa foi quando ele tinha mais de dois anos – antes disso, usamos muito os livrinhos de colorir que ganhamos quando entramos no avião, e a Lufthansa tem uma bandeja cheia de opções que oferecem pros pequenos escolherem em função do interesse. Na AirFrance, eles distribuem kits em função da idade, e os itens são interessantes também – temos baralho, cartela de adesivos, lápis de cor e cadernos.
Como Vic não tem muito costume de assistir TV, ele muda rápido de distração e prefere colorir ou ler. O importante é termos em mãos itens que sabemos que a criança vai gostar – ele por exemplo adora quadrinhos, então trato de ter pelo menos um à bordo pra quando ele desistir do filme ou da atividade que estiver fazendo. Adesivos também são ótimos, temos livros de atividades com adesivos que acabam distraindo por um bom tempo também.
Comida de avião com bebê
No quesito comida de avião com bebê a variável mais importante a ser considerada é a idade do pequeno. Nossa primeira viagem de avião com bebê aconteceu quando ele tinha 9 meses, mas fizemos uma longa viagem de carro quando ele tinha 4 meses, e apesar da dinâmica ser um pouco diferente – tivemos de parar pra amamentar, trocar fralda – pra mim esse período dele muito pequetito foi fácil porque era só por no peito e pronto. Aos 9 meses inclusive nem me preocupei em levar comida ou pedir papinhas, ele não ia comer nada mesmo. Só experimentou o pão, e olhe lá.
Já na viagem ao Canadá, essa de maio de 2017, preparei a comida de maior sucesso pro paladar dele na época – macarrão com legumes – e embarcamos no maior perrengue da vida. Não por causa da comida, mas por perrengue mesmo, tivemos de embarcar no dia seguinte ao previsto, e acabamos servindo esse macarrão no hotel, compramos outra comida no mercado antes de embarcar – mas ele odiou aquelas comidas prontas pra bebê. Ficou só no peito mesmo, um tico daqui e outro dali da nossa comida, e comeu de verdade quando chegamos em Vancouver.
Depois dos 2 anos é possível optar pelo menu infantil, e ainda não fizemos porque em geral ele come a mesma comida que é servida pra gente. Mas segundo pesquisa do DataMãe (eu mesma) os dois últimos voos foram um tanto inconsistentes e ele não comeu tão bem assim, na viagem que faremos em breve pedi o menu infantil, aguardem relato em breve aqui mesmo, neste post.
Nossa experiência de viagem de avião com bebê
Globalmente, nossa experiência é positiva. Os desafios e perrengues evoluem à medida que a criança cresce – a logística do banheiro com uma criança sem fralda pode ser tão desafiadora quanto trocar fralda naquele micro espaço, e álcool gel é essencial pra tudo. Depois dos 2 anos nossos colos são trocados por uma poltrona exclusiva pra criança – pra alegria das nossas costas e tristeza da conta bancária.
Os pequenos nessa idade já podem ter seu próprio programa de milhagens, podemos escolher o menu no momento da reserva e ainda temos prioridade no embarque – em alguns países a idade varia. Recentemente, voltamos da Itália e lá pais acompanhados de crianças até 5 anos tem prioridade no embarque.
O que aprendemos também foi adaptar as expectativas à realidade. Na verdade, nem crio mais expectativa, pois só me trazia ansiedade. Somos bem mais flexíveis durante uma viagem de avião do que no dia a dia, por exemplo, em casa a TV não é ligada – nós mesmos não assistimos. No avião, ele pode escolher o filme que quer assistir. Chegou a comida e quer comer a sobremesa primeiro? Péra lá, aí não. A sobremesa eu recolho e deixo na mesa bem longe dele, pra evitar que veja e recuse o resto.
E as regras básicas de boa convivência ensinamos bem cedo: na poltrona da frente tem uma pessoa sentada, então não encoste na poltrona, a menos que seja pra abrir e fechar a mesa. E nesse caso, faça com delicadeza (ter cachorro em casa ajudou nesse quesito, os gestos são de fato mais cuidadosos). Fale baixo, tem pessoas dormindo no avião. E por aí vai.
Felizmente nunca aconteceu do Vic adoecer durante uma viagem, mas SEMPRE providenciamos um seguro de saúde pra viagem, principalmente quando estamos fora da Europa – somos cobertos pelo nosso próprio plano local, equivalente ao SUS do Brasil. E uma semana antes da viagem costumo marcar uma consulta com nossa médica pra conferir se tudo está ok, principalmente se os ouvidos estão sem infecção – caso positivo, já começamos o tratamento a tempo de estar tudo ok pra viagem.
Luciana
Que delícia ler esse artigo. Saber que o Vic se adaptou super bem as suas viagens só me motiva a viajar ainda mais rs. Na como fizeram com essa questão do fuso no Canadá? Você comenta que foi desafiador.. tem dicas?
Sobre os olhares alheios eu devo conrcodsr, o cidadão do lado fala alto e ninguém olha.. mas vai a criança chorar!! Terrível né. Uma dica que amei foi a dos adesivos!! O Edu já adora ficar colando adesivos, vai entreter e não faz barulho né?! Adorei o texto!!